No meio de um papo sem pé nem cabeça com uma amiga minha surgiu essa palavra: convenção. Nós vivemos em um mundo cheio delas. Pare para pensar. Quantas coisas você já fez e deixou de fazer também por causa de uma convenção?
Convenção, segundo o Aurélio: Padrão de comportamento observado por hábito e não porque se acredite no significado que tradicionalmente lhe é atribuído. Hum, interessante.
Exemplo: hoje é sábado e você não vai sair?
Por que o espanto, ó cara pálida? Quer dizer que só porque hoje é sábado, geralmente as pessoas não trabalham e amanhã é domingo eu tenho que me montar inteira e cair na noite? É isso? Convencionaram que o dia de sair é sábado e pronto. Tenho que virar ovelha e seguir o rebanho.
Exemplo 2: Mulher não entende de futebol
Exemplo 3: Cozinhar é coisa de mulher
Exemplo 4: Mulher que não dá, voa. (Essa eu odeio muito)
Exemplo 5: Mulher tem que ser magra, alta e peituda, de preferência.
Exemplo 6: Mulher tem que casar, ter filhos, comer brócolis e saber passar uma camisa de linho. Tem que saber também que margarina derretida vira gordura trans.
Olhem bem. Quantas convenções machistas!
Será que convém? A quem?
Na minha opinião, convenções são ilusões. Assim como a chamada verdade absoluta, que só existe na cabeça de quem a cria. É como o prato típico de um país: cada um tem o seu.
Há quem siga o palpite do vizinho, há quem formule seu próprio caminho, mas convenção soa como obrigação. A Constituição seria uma convenção? Apesar de não ter sido baseada em hábitos, ela foi escrita para criar inclinações de conduta, pelo menos.
Convenção é preconceito, como os exemplos que eu citei acima. Sim, eu sei. A maioria dos meus exemplos foi em defesa das mulheres. Mas calma aí. Existem convenções que prejudicam a classe masculina também, obviamente.
Homem que não gosta de futebol é frutinha?
Todos são-paulino é viado?
Todo corintiano é pobre?
Homem não chora?
Homem não pode saber bater um bolo?
Homem tem que ter pelo debaixo do braço?
Homem não pode ver novela?
Homem que é homem não sabe a diferença, a sutil diferença, entre marcas de amaciante de roupa?
Convenção é aprisionar suas opções. É colocar cadeado nas vontades, afinal de contas... Elas não podem remar contra a maré do que foi combinado, convencionado, estipulado.
Na ciência, há milhares de paradigmas que assumem status de 'verdade'. E aí, quando algum gênio aparece para contraverter a ordem das coisas, rompendo o modelo já conhecido, é jogado ao fogo. Na convenção da ciência, da religião, da opção sexual... não cabe ser diferente de ninguém. Somos todos manequins equivalentes.
A própria filosofia é colocada em xeque. Verdade ou ilusão? Verdade ou convenção? Para Nietzsche, a verdade, por ser estabelecida por uma convenção, não existe em si. Neste processo, existem forças atuantes, como relações de poder, que formatam o padrão de comportamento moral, por exemplo.
Enfim, a verdade não existe e a convenção é sua filha bastarda. Ou seja, não deve ser levada a sério.
E é por isso que eu nao como feijoada às quartas-feiras, vou ao cinema nas tardes de segunda, começo a dieta somente na quinta e, no sábado à noite, durmo cedo para acordar bem no domingo e assistir à Fórmula 1.