quarta-feira, 25 de junho de 2008

A tal da melancolia genial existe?

Dizem que a inspiração melhora quando estamos tristes. Eu chamo esta fase de melancolia genial, aquela que Drummond, Pessoa, Gogh, Eistein e mais tantos outros símbolos da nossa história experimentaram para compor suas obras fantásticas. Assim foi escrito.

Fui questionada esta tarde por um novo amigo sobre o assunto. Ao comentar que achava que escrevia melhor quando estava agoniada por alguma razão, ele logo rebateu. Pensar que a tristeza é a melhor companheira da criatividade não passa de um vício, disse ele, que parte exatamente da preguiça que nos persegue quando estamos felizes. ‘Ei, eu estou feliz!’ Logo, não preciso fazer mais nada.

Aí é que entra a genialidade da melancolia. Não é que nosso lado brilhante apenas aflore nos momentos de escuridão. O problema é que nós só olhamos para ele nas horas de necessidade. Meu Deus, estou triste. O que faço para melhorar? Eu tenho que melhorar, eu preciso... É agora ou nunca. Minha vida está vazia. Meu namorado terminou comigo, moro só, estou sem amigos... vou descontar essa sensãção incômoda em uma folha de papel.

Quanta injustiça com a felicidade. Ela que nos faz sorrir e olhar o mundo com uma visão tão mais colorida. Por que seria culpada da nossa ‘falta’ de inspiração?

Quando estiver feliz, lembre-se que é necessário muito esforço para que essa onda de contentamento não vá embora e, ainda assim, fugirá de quando em quando. Aí, se ela correr para debaixo da cama, você automaticamente vai pensar que a inspiração vai chegar. E o vício recomeça.


A alegria deveria tomar conta de nossas linhas tortas. Das linhas que escrevem nosso dia, seja no trabalho ou em nossas vidas. Sem essa de desamor, desgosto, decepção. É como no reiveillón. O tal do 'ano novo' é só uma ilusão do dia primeiro de janeiro e do espumante. Na verdade, o ponto de partida de maos um recomeço pode ser feito em qualquer estação, porque o ano novo vive escondido dentro de nós. A inspiração também vive assim. Se fôssemos uma geladeira, provavelmente estaria atrás do pé-de-alface. Cabe a nós sabermos procurá-la.

terça-feira, 24 de junho de 2008

E por falar em 58...

O que você vai ler agora era para ser uma entrevista, só que acabou virando um desabafo surpreendente de alguém que fez muito pelo futebol. Nilton Santos em campo parecia tantos, que encanto era! Como pode então o mestre exigir uma coisa dessas a essa altura da vida? Em seu aniversário de 80 anos, envolvido por sua melancolia genial, o mestre pediu sossego. Quer praia, água de coco e a companhia de seu cachorrinho vira-lata.

“Quero ser esquecido!"

AOS 80 ANOS, NÍLTON SANTOS, NÃO QUER HOMENAGENS, QUER SOSSEGO. NUM DESABAFO INÉDITO, ELE REVELA UMA MÁGOA COLOSSAL COM O MUNDO DO FUTEBOL E OS PUXA-SACOS DE PLANTÃO. E NÃO O CHAMEM MAIS DE ENCICLOPÉDIA!

Por Joanna de Assis

O sr está completando 80 anos. Nós queríamos prestar uma homenagem...

(interrompendo) Já passei um monte de aniversário e ninguém me ligou. Mas agora é 80 anos, né? Não quero homenagem alguma! O Botafogo inventou isso, mas eu não estou interessado! Não sou herói. Quem vai para a guerra é que é, não eu. Eu quero ser esquecido!

Mas...

Tem gente que me conhece e acha que é meu amigo, Não é meu amigo! Quero que respeitem a minha idade! Os caras da minha época já foram... só resta eu. Já passou! Eu como e durmo em cinco minutos porque sempre fiz o bem... fiz o bem para muita gente! Mas não acredito em Deus, tenho a minha religião.

Os telefone toca aqui o dia todo... não agüento mais! Toca às 5 horas da manha! Eu não tenho sossego! Eu nem atendo... Aliás, nem sei porque te atendi.

"Eu quero tranqüilidade! Ficam me chamando de Enciclopédia do Futebol. Que Enciclopédia o quê, o cacete!"

O sr tem alguma mágoa do futebol?

Não tenho mágoa. O futebol me salvou. Eu era filho de pescador. Mas foi uma fase. Não quero viver isso para o resto da vida. Já foi! Comprei uma casa em Araruama, onde eu atravesso a rua e estou na praia. Era isso o que eu queria pqra mim, mas quase não tenho tempo de ficar lá. Aí, a prefeita me chamou para fazer uma campanha: "Remédios a 1 real". E eu fui. Eu e mais três ex-jogadores. Só que o pessoal falta. E eu não posso faltar. Nílton Santos não pode faltar! Eu não dou entrevista, mas não sou mal-humorado. Só que, se eu não desabafar com você, meu bem, eu enfarto... sério. Ficam me ligando e perguntando das Copas de 1950, 54... Vai pesquisar!!! Querem ganhar dinheiro em cima de mim? Não falo mesmo. E aí depois ficam me chamando de mascarado. Safados, sem-vergonhas! Querem ganhar dinheiro comigo? Aí, eles devem falar que eu sou esclerosado... Eu vivi em um meio danado, sei como são as pessoas.

O sr ainda acompanha o futebol?

Sou desligado para caramba, não acompanho nada. Pode ser que seja velhice. Mas não acompanho jogo nenhum. O que a gente vê aqui é resto! Os bons estão lá fora. Na minha época não era assim, não.

Quando o Dino ia para a Itália, ele falava assim: "Garrincha, tenho chance ir para lá (Itália). Passa a bola para mim, para eu fazer gol?"... Aí, o Garrincha driblava todo mundo e passava a bola para ele. Aí, eu falava: "Não vai dar nada para o Garrincha, não?" Eu falava na brincadeira, mas era sério. Para o Garrincha nada? Ninguém dava nada mesmo. Eles estão lá até hoje. Devem estar ricos.

O sr...

Eu queria mesmo era viver isolado. Mas hoje estou aqui, na Senador Vergueiro, na praia do Flamengo. Mas a culpa é minha. Eu que quis ajudar o governo. É um bem que eu faço pela velhice. Negar, faria de mim um bandido. Mas eu quero ficar isolado. Minha vida foi muito agitada: Seleção, Botafogo, viagens... Minha mulher sabe disso. Hoje eu acordo cedo e vou para a praia. Eu e o "Podi", um viralata que vive comigo (foi um cachorro atropelado que a mulher encontrou na rua) Ele é esperto viu? Precisa ver... Afinal, é melhor um cachorro amigo do que um amigo cachorro, né? Porque eu já tive muitos amigos cachorros. Pô, tô sozinho. Não tem mais ninguém da minha época. Aí, ficam te perguntando: "Lembra de 1948"? Porra, se eu não me lembro, sou mascarado... É uma bosta isso!

Quais as funções que o sr recebeu agora no Botafogo?

No Botafogo, eu não queria aquela incumbência de ter de ir lá. Mas aceitei. Vou de vez em quando, para falar com os atletas. Mas está cheio de gente enciumada... Fui na vitória do Botafogo diante do Vasco, parecia que eu havia jogado! Ah, Nílton, você é pé quente! Sim, sou pé quente mesmo, nunca perdi uma decisão! Tenho 26 títulos... Mas eu vim aqui para torcer, aí vem a pessoa e fala: "Gostou de ganhar?" "Dããããa!, não... odiei, achei uma merda. Eu gosto é de perder". Dá licença, né? Cada perguntinha...

Mas...

Pô, eu vou para a praia, chegam e me falam: "Olha, estou te conhecendo de algum lugar"... Ah fica quieto, né? Se as pessoas soubessem que o que eu quero é sossego... Eu quero tranqüilidade! Quero ser esquecido! Tanta gente que quer aparecer... Por que eu? Aí ficam me falando... "Ah, esse aqui jogou com o Pelé...." Não senhor! Pelé é que jogou comigo; eu já estava lá quando ele chegou! Ficam me chamando de Enciclopédia do Futebol. Que Enciclopédia o quê, o cacete! Desculpe-me por estar desabafando com você, mas isso está me fazendo um bem enorme... Se eu não falar, eu enfarto, sério! Pô... Chegam para um menino de 10 anos e me apontam: "Sabe quem é ele, Zezinho?" E eu fico ali... Feito um boneco, olhando para os dois. Pô, não sou retardado! É claro que o moleque não sabe!!! Olha, me desculpe de novo, mas eu precisava falar. Agora vou parar porque isso já está me cansando... Tchau!"

domingo, 15 de junho de 2008

POR QUE ESCOLHI O JORNALISMO?

Em uma aula de história da comunicação na faculdade, debatemos a funcionalidade do jornalismo. “Transmissão de conhecimento ou degradação do saber”?

Lembro-me bem da discussão. Aliás, quando ainda estudava, meu grupo de projeto experimental (conclusão de curso) realizou uma palestra envolvendo jornalistas e historiadores. Até que ponto o jornalismo é história e o historiador faz jornalismo? Não conseguimos chegar a um consenso. Muitos pesquisadores consideram o jornalismo como fonte de deturpação da história, já que é sempre opinativo. Outros dizem que não, que o jornalismo pode e deve ser o registro do dia a dia. Hoje, penso que essa discussão sustenta a minha vontade de ser jornalista. Minha escolha profissional foi motivada pela curiosidade sobre o mundo e a idéia de que a informação tem caráter transformador. Sim, nós jornalistas somos cidadãos especiais.

Em setembro de 1998 eu estava terminando o colegial. As dúvidas dos estudantes sobre qual curso escolher eram gerais. Eu também sofria desta hesitação. Pensava: “Faço Jornalismo ou faço Direito”?

Sempre me disseram que eu tinha muita habilidade para me comunicar, e que possuía uma boa retórica, qualidades fundamentais para se dar bem em qualquer um desses cursos. Mas na hora de fazer minha opção, não tive de pensar muito e escolhi o jornalismo, por uma única razão: gostava de escrever.

Entrei na faculdade e em pouco tempo de curso já havia me tornado uma pessoa bastante cética. Costumava colocar em dúvida a veracidade de quase todas as notícias que lia nos jornais. Queria fazer perguntas e não encontrava as respostas. Hoje, após nove anos de labuta, reafirmo essa característica, e percebo o quanto é tendencioso o meio jornalístico, ainda mais na era dos jabaculês.

Jornalismo é também fogueira de vaidades. Cada matéria é parte da biografia do repórter, que se vangloria com cada linha. Não quer só ajudar a fazer o registro de um acontecimento importante, mas sim entrar para a história como personagem.

São preocupantes os caminhos que a imprensa vem tomando. A notícia é vulgar, espetacular, decorrente de um jornalismo preguiçoso e superficial. Como vamos fazer história assim? Tudo o que o jornalista deseja é provocar impacto, e para isso não interessa se a raiz da informação é comprometida ou não. Troca de insultos rende muito mais do que uma notícia bem explicada.

Na belle époque, apogeu do imperialismo britânico, tempo de grandes avanços científicos mas também de diáspora para milhões de europeus, o jornalismo era pensado com duas funções distintas: a de manter viva a fantasia sentimental e aventureira do público, e a de educá-lo para o consumo. Hoje, em tempos em que mulher pelada e briga de casal rendem mais pontos no ibope do que um bom documentário, o que vale a pena fazer?

O jornalista está valente demais. Sócrates deveria servir de inspiração nessas horas. “Só sei que nada sei”. Afinal, a sabedoria é reconhecer a ignorância. Além da arrogância, outra ameaça ao jornalismo é o interesse de classes. Mais uma vez a filosofia explica. O drama do jornalista é como o drama da jovem Antígona. Seguir a lei de Deus ou a lei do Rei? Ei, você, repórter. Quem você deve obedecer? As leis de mercado? Cláudio Abramo, me socorra. Diga à Antígona e a todos os jornalistas qual é a ética do marceneiro.

A imprensa brasileira não está precisando de mordaças, mas sim de referências. O fim da obrigatoriedade do diploma talvez venha a piorar ainda mais a situação do jornalismo. Precisamos de boa formação profissional e de menos mesquinharia. Um jornal diário é um pântano de privilégios. Você vê em uma mesma página uma matéria sobre “as qualidades do novo carro da Ford” e um anúncio sobre o mesmo automóvel. Será que os dois são anúncios e a gente não percebeu?

O jornalista tem que ter no mínimo respeito à verdade e liberdade para informar. Esse binômio ético é o que ampara o bom trabalho da imprensa. Não quero ter de aceitar que o jornalismo é um estelionato. Não quero aceitar viagens para escrever bem sobre um campeonato ou sobre um novo hotel que foi inaugurado em Mato Grosso do Sul. Não podemos permitir a decadência, pois não estamos condenados a ela, não.


(Este texto foi escrito em 2003 durante a fase de seleção do Curso Abril de Jornalismo que eu fiz e indico)

Especial

Este poeminha é especial. Escrevi quando tinha 15 anos. Tão nova e já romântica inveterada.... :D

De formas suaves
Suntuoso...
Amor pitoresco
Inimaginável...
Até poético
Amor sublime
O amor imaculado

É a pura simetria
Um amor quase causticante...
Me faz viver com mais alegria
Amor asfixiante!

Amor que ofusca...
Amor que até assusta...
De tão imenso...
É tão intenso...
Que às vezes penso...
Não viveria sem ele.

Bala perdida

Cupido culpado
Não veste que este coração estava ocupado?
Coração baleado
Bala perdida
Doce e bandida
Por que errar assim de mira?
Se soubesse da dor, teria mesmo assim me flechado?

Agora o que faço?
Para tirar esse espinho
Se você não estava antes no meu caminho
E um outro amor será magoado

Tocou a paixão
Essa minha face distraída
E se esqueceu que esta azia
Em outras mãos não se alivia

Mas se tudo agora mudou
Não há como voltar atrás
Vou aceitar que este amor
Chegou para não ir embora jamais
E essa bala perdida
Essa flecha sem direção
Enfim, acertou a pessoa certa
E o culpado disso tudo é o meu coração.

sexta-feira, 6 de junho de 2008

As SUAS leis de trânsito

Não está vendo a placa do meu coração?
Há vaga
Vai levar uma multa se parar em fila dupla
Então pare com velocidade para não ficar na saudade
A minha CET vai orientar!

Eu liberei meus sinais
O semáforo abriu
E não vem ninguém na pista contrária
Tô de cinto, capacete e de mão dada com a carona do banco ao lado
Porque está escurido e eu preciso de companhia
E na escuridão é preciso esperança

Não quero mais esse acidente
Você longe da minha vida
Perdi anos para ter habilitação
E demostra aqui toda a minha habilidade
Hoje, pois, reconheço que você é meu motor
E muito capaz de dirigir a minha felicidade.

Melhor é que você se perca de outros rumos
Porque comigo no volante você não precisa mais de carona
Eu mudei o meu caminho
Peguei um GPS
E segui nesta nova estrada de asfalto
Ainda achou que a notícia veio de sobressalto?

Olhe bem a placa do meu coração
Porque nela está escrito estacione logo.
A vaga é sua.
Agora você já pode dar sua marcha ré
E sem essa de viver nosso amor a pé.

terça-feira, 3 de junho de 2008

Dois

Ele faz barulho enquanto dorme.
Ela gosta de passar creme de maracujá nas mãos antes de deitar.

Ele acorda de mau-humor.
Ela desperta com vontade de fazer amor.

Ele tem pressa ao dirigir.
Ela deixa o carro morrer e culpa o salto alto para fazê-lo sorrir.

Ele é prático. Ela é mágica.

Ele é Corinthians. Ela também.

Ele é silencioso. Ela derruba a cadeira do restaurante.

Ele é sério. Ela não tem mistério.

Ela cobra atenção. Ele odeia sermão.

Ela chora no travesseiro. Ele repete que não foi grosseiro.

Ela pede carinho. Ele gosta de ficar sozinho.

Ele não amansa. Ela então se cansa.

Ele toma cerveja. Ela toma coragem.

E mais um par se quebra no meio da Marginal Pinheiros.